quinta-feira, 12 de abril de 2018

Tempo imemorial

A bela vista do calçadão de Copacabana com a estátua de Carlos Drummond de Andrade sentado num banco com as pernas cruzadas, pasta de executivo ao colo, remete o observador a um tempo quase imemorial, no qual era possível fazer isto sem qualquer receio. Isto gera algumas interrogações: por que tão grande deterioração na cidade maravilhosa? Quando o medo começou a ditar suas regras e estas  se tornaram imperiosas? Até quando será o medo e o não o bom senso a predominar? Haverá um futuro melhor do que o agora? 
A esperança teima em dizer que sim, pois, a maravilha das belezas naturais continuam onde sempre estiveram, embora a segurança há muito tenha desaparecido. Quando o próprio Drummond estava vivo, o Rio de Janeiro já enfrentava seus momentos de terror com furtos e roubos em estabelecimento ou junto a turistas e moradores mais desatentos. Aliás, antes mesmo do escritor ter seus cabelos encanecidos, as ruas de bairros ilustres e não tão ilustres, tanto da cidade outrora maravilhosa, assim como outras cidades do Estado do Rio e em outros Estados do Brasil deixaram de oferecer segurança aos transeuntes e, principalmente, para quem quisesse parar e observar a natureza sem qualquer outra preocupação.
Praças e jardins deixaram há muito de ser locais de encontro, namoro ou descanso porque o medo tomou conta de tudo e todos: medo de assalto, medo de bala perdia, medo de arrastão, medo do outro que vem em sua direção esteja ele bem ou mal vestido. Ou seja, não se vê mais o ser humano e sim alguém que pode causar algum mal. 
As pessoas se tornaram reféns do medo e os prédios tornaram-se prisões já na entrada, com dois ou três portões automáticos e com grades, até que se chegue na porta de vidro da entrada. Isto ocorre tanto nas metrópoles como em cidades interioranas, na vã tentativa de gerar segurança e confiança, querendo deste modo manter o medo ausente ou distante do interior pessoal.
Fonte: Google
E, observando a famosa estátua e o próprio calçadão junto à beira-mar parece que o sentimento de tristeza invade a alma, fazendo crescer a solidão da vida que flui em seu compasso de espera ou em ritmo acelerado para aqueles que ainda ousam se exercitar em corridas ou caminhadas, numa área cuja natureza convida para um convívio mais próximo  entre todos. 

Regina Maria da Luz Vieira (RegiluzVieira)

Um comentário:

  1. Sim Regina, muito angustiante o que está acontecendo na cidade do Rio de Janeiro, especificamente, pois sou carioca da gema. Diante da proporção que o problema tomou, resta a nós cidadãos, a tomada de consciência, a responsabilidade de tomarmos as rédeas da situação, sendo mais participativos na cobrança aos poderes públicos de toda a política a que nos é imposta. Chega de alienação não é mesmo?

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