quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Comunicação: Caminhava e Refletia

 

Enquanto caminhava, refletia. Refletia e caminhava. Parou por um breve instante: olhou o mar, sentiu o ar quente em sua face e uma leve brisa, serena, parecendo uma suave carícia de mãos invisíveis e muito presente. “Eis aí a comunicação da natureza: direta, singela, mas repleta de sentido”, pensou seguindo em sua caminhada...

Refletia e caminhava: Mas o que significa a comunicação neste século XXI inundado pela era digital e sobrecarregada de informações? É estar conectado nas redes sociais 24h por dia? Encontros virtuais tão comuns nesta era pós-pandêmica geram conexões de fato de fato? Criam laços?

Caminhava e continuava a refletir: Comunicação em sua origem é comunicare, tornar comum, re-ligar, criar laços, construir conexões, estabelecer diálogo, partilhar. Trocar mensagens, que por sua vez, envolve emissão e recebimento de mensagens e informações. É ainda uma comum-união; passar do individual ao coletivo, dando forma e significado às informações, rememorando ou tecendo contextos, sentido para o que se vê, fala ou escreve.

Enquanto refletia e caminhava também olhava para o mar, para as pessoas com passos apressados e celular em punho, circulando do outro lado da avenida. Questionou-se: como realizar uma comunicação realmente dialógica? Uma comunicação capaz de construir pontes, religar pessoas, comunidades, grupos nesta aldeia global na qual o mais negativo e o extraordinário fazem parte da notícia e da informação nos mais variados suportes?

Caminhava e refletia: “Esta comunicação teve como suporte apenas a sensibilidade humana”, ao ver um entregador auxiliando um deficiente visual na travessia da avenida. Seguia o fluxo mental voou para a comunicação rupestre: as imagens, desenhos, nas paredes das cavernas narravam histórias de fracassos, vitórias, perseguições, destruições causadas por ações da própria. Era pré-histórica que seguiu seu curso até o surgimento da escrita que levou a feitos gigantescos.

Enquanto caminhava, refletia sobre o surgimento de outros meios de comunicação: cartas, correios, telégrafo, telefone, rádio, televisão, internet e a comunicação digital. Refletia; mais meditava do que refletia e pensou, enquanto caminhava: “O objetivo sempre é comunicar e em grande estilo, atingindo o maior número possível de interlocutores e com máxima eficiência. Estes meios de comunicação tanto podem construir pontes quanto gerar barreiras, conforme o contexto apresentado.”

Refletia e caminhava: Se olharmos ao redor veremos pessoas num mesmo espaço físico, as quais na maior parte das vezes, sequer trocam um cumprimento. Neste caso, é possível falar em Comunicação? Que tipo de Comunicação? De quem para quem e sobre o quê?

Caminhava e refletia: É bem verdade que as eras pandêmica e pós-pandêmica geraram formas virtuais de Comunicação, encurtou distâncias, resgatou as pessoas do caótico trânsito das megalópoles e de transportes públicos nada confortáveis. Favoreceu, em tempo real, encontros virtuais entre pessoas, entre grupos de diferentes partes do mundo. Gerou Comunicação como processo, meio e fim; mas foi capaz de criar laços e conexões reais? Em alguns casos sim; em outros nem tanto.



Foto da autora

Regina da Luz Vieira 

(RegiLuzVieira)