Enquanto caminhava,
refletia. Refletia e caminhava. Parou por um breve instante: olhou o mar,
sentiu o ar quente em sua face e uma leve brisa, serena, parecendo uma suave
carícia de mãos invisíveis e muito presente. “Eis aí a comunicação da natureza:
direta, singela, mas repleta de sentido”, pensou seguindo em sua caminhada...
Refletia e caminhava: Mas
o que significa a comunicação neste século XXI inundado pela era digital e sobrecarregada
de informações? É estar conectado nas redes sociais 24h por dia? Encontros
virtuais tão comuns nesta era pós-pandêmica geram conexões de fato de fato?
Criam laços?
Caminhava e continuava a
refletir: Comunicação em sua origem é comunicare, tornar comum, re-ligar, criar laços, construir
conexões, estabelecer diálogo, partilhar. Trocar mensagens, que por sua vez, envolve emissão
e recebimento de mensagens e informações. É ainda uma comum-união;
passar do individual ao coletivo, dando forma e significado às informações,
rememorando ou tecendo contextos, sentido para o que se vê, fala ou escreve.
Enquanto refletia e caminhava
também olhava para o mar, para as pessoas com passos apressados e celular em
punho, circulando do outro lado da avenida. Questionou-se: como realizar uma
comunicação realmente dialógica? Uma comunicação capaz de construir pontes,
religar pessoas, comunidades, grupos nesta aldeia global na qual o mais
negativo e o extraordinário fazem parte da notícia e da informação nos mais
variados suportes?
Caminhava e refletia: “Esta
comunicação teve como suporte apenas a sensibilidade humana”, ao ver um
entregador auxiliando um deficiente visual na travessia da avenida. Seguia o fluxo
mental voou para a comunicação rupestre: as imagens, desenhos, nas paredes das
cavernas narravam histórias de fracassos, vitórias, perseguições, destruições
causadas por ações da própria. Era pré-histórica que seguiu seu curso até o
surgimento da escrita que levou a feitos gigantescos.
Enquanto caminhava, refletia
sobre o surgimento de outros meios de comunicação: cartas, correios, telégrafo, telefone, rádio, televisão, internet e a comunicação digital. Refletia; mais meditava do que
refletia e pensou, enquanto caminhava: “O objetivo sempre é comunicar e em
grande estilo, atingindo o maior número possível de interlocutores e com máxima
eficiência. Estes meios de comunicação tanto podem construir pontes quanto gerar barreiras,
conforme o contexto apresentado.”
Refletia e caminhava: Se olharmos ao redor veremos pessoas num mesmo espaço
físico, as quais na maior parte das vezes, sequer trocam um cumprimento. Neste
caso, é possível falar em Comunicação? Que tipo de Comunicação?
De quem para quem e sobre o quê?
Caminhava
e refletia: É bem verdade que as eras pandêmica e pós-pandêmica geraram formas
virtuais de Comunicação, encurtou distâncias, resgatou as pessoas do caótico
trânsito das megalópoles e de transportes públicos nada confortáveis. Favoreceu,
em tempo real, encontros virtuais entre pessoas, entre grupos de diferentes partes
do mundo. Gerou Comunicação como processo, meio e fim; mas foi capaz de criar laços
e conexões reais? Em alguns casos sim; em outros nem tanto.
|
Foto da autora |
Regina da Luz Vieira
(RegiLuzVieira)