quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Refugiados

 

Depois de viver com a visão prejudicada durante grande parte dos seus seis anos, Aziaya recorda o momento exato em que o mundo voltou a fazer parte de seu campo de visão.

“A primeira coisa que vi for o vestido branco brilhante de hospital que estava usando”, lembrou.

O rosto do garotinho camaronês se ilumina com um sorriso deslumbrante enquanto cumprimenta os visitantes que vieram vê-lo em sua casa, no assentamento de refugiados Ikyogen, no sudeste da Nigéria.

“Estou feliz de poder enxergar”, diz Azaiya, e acrescenta: “E de ir à escola”.

Sua visão nem sempre foi brilhante. Quando ele fugiu de Camarões, há três anos, mal conseguia distinguir a luz da escuridão. Vivendo com catarata, que o deixou com deficiência visual, sua meia-irmã, Onal, de 39 anos, teve que levá-lo através das florestas em busca de segurança.

“Eu estou feliz de poder enxergar e ir para a escola”

No local que o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, construiu para receber as famílias que fugiam do conflito entre as forças secessionistas no noroeste e sudeste dos Camarões e os militares, Azaiya não podia caminhar sozinho.

Caminhos irregulares, canais abertos na estação chuvosa, lareiras e postes entre abrigos, tudo isso representava riscos adicionais para ele. As viagens ao banheiro exigiam que alguém o levasse pela mão e ir à escola era um sonho distante.

A ajuda veio quando os trabalhadores do ACNUR relataram suas dificuldades ao parceiro de saúde FHI 360. Os médicos diagnosticaram prontamente cataratas congênitas, uma opacidade das lentes presente desde o nascimento.

“Sem acompanhamento, ele piorou com o tempo à medida em que sua visão se deteriorava progressivamente”, explica Ernest Ochang, Oficial Assistente de Saúde Pública do ACNUR baseado na cidade de Ogoja. Azaiya precisava de cirurgia ocular, algo que o ACNUR e o FHI 360 tornaram possível em junho de 2020.

O deslocamento forçado é particularmente difícil para pessoas com deficiência. Deslocados como Azaiaya correm maior risco de violência, exploração, abuso e podem enfrentar dificuldades no acesso aos serviços básicos, além de serem frequentemente excluídos da educação e do mercado de trabalho.


Fonte: Google

Porém, quando Azaiya retornou ao assentamento usando  seus novos óculos, seu mundo se abriu. Apesar de ter sua visão classificada como “baixa”, ele não precisa mais de outras pessoas para se locomover e, mais importante ainda, ele já pode ir para a escola.

Se sentando na primeira fileira de carteiras, Azaiya começou a ler e escrever. Mesmo que sua visão ainda esteja um pouco ruim, seu progresso é visível para os funcionários.

“Ele está tentando ler do quadro negro e está fazendo pouco progresso, mas progresso mesmo assim”, explica Akule Lucy Angbiandoo, sua professora na escola primária local.

No pátio da escola, ele brinca como qualquer outro aluno. As melhorias na vida de Azaiya também ajudaram sua meia-irmã Onal que, após a morte de seu irmão no conflito em Camarões, se tornou a principal provedora da família.

Ela cultiva mandioca, arroz e milho. Mas como Azaiya precisa de menos ajuda, ela também tem tempo para continuar com seu antigo ofício de alfaiate. O ACNUR a apoiou para fazer um curso de design de moda e, graças ao apoio financeiro da Save the Children, onde ela trabalhou como voluntária, agora Onal tem uma nova máquina de costura. Ela faz roupas para crianças e espera abrir uma loja na praça principal do assentamento.

"Ele está fazendo pouco progresso, mas é um progresso mesmo assim”

Cerca de 100 pessoas são portadoras de alguma deficiência no assentamento Ikyogen. O ACNUR procura ajudá-las, garantindo que sejam incluídas nos processos de tomada de decisão e tenham acesso a apoio psicossocial, se necessário.

Onal ainda tem momentos de tristeza quando lembra de seu irmão falecido. Mas, quando Azaiya chega ao seu abrigo, seu espírito se reergue. Logo, meninos e meninas dos outros abrigos o cercam – todos querem ouvir sua história.

Ele gosta da atenção e olha para seus amigos com um sorriso. Inspirado pelo cirurgião que mudou sua vida, ele quer se tornar médico e, um dia, trabalhar em um hospital.

“Me chame de Dr. Asuquo!” diz, referindo-se ao nome do médico que conduziu sua cirurgia. Todo mundo explode em gargalhadas, surpreso com a natureza precoce do rapaz – e com o seu sorriso deslumbrante.

 Informações adicionais de Lucy Agiende em Ogoja, Nigéria

Fonte: Acnur