terça-feira, 7 de agosto de 2012

Um ofício de valor


"Visto-me como me visto  porque me orgulho do ofício de jornalista" (terno, gravata e chapéu), assim respodeu Gay Talese, profissional reconhecido internacionalmente por sua seriedade, confiabilidade, honestidade, ética e vivência jornalística, em sua entrevista para o programa Dossiê GloboNews. Ou seja, seu modo de ser, inclusive no vestuário reflete sua integridade profissional, ao longo de seus 80 anos de vida, cuja imagem na TV exibia ternura  e sobriedade.
Assisti ao programa foi prazeroso, mas  também significou refletir e redescobrir o fascínio que a profissão ainda exerce na sociedade, mas principalmente em mim. Ao narrar um pouco de sua trajetória, Talese - que trabalhou no New York Time - destacou ter sempre em mente a afirmação que um dia ouvira: "tente ser mais do que justo com aqueles que você sinceramente discorda" porque desta forma desenvolverá seu trabalho com o máximo de retidão.
Ele prefere entrevistar anônimos, por considerar que estes dizem o que pensam e sentem, sem máscaras, tornando possível mostrar a humanidade de pessoas como o redator de obituários,entrevistado por ele. Considerado criador do New Journalism, que permite a utilização de recursos literários no jornalismo como descrição de cens, diálogos e ponto de vista dos personagens, sua veia de escritor  também está presente nas obras "Forma e Anonimato", "A Mulher do Próximo", "Honrados Mafiosos", "O Reino e O Poder", "Vida de Escritor".  
Para o norte-americano Gay Talese  os Estados Unidos demonstram uma hipocrisia quando bradam pela liberdade de expressão, mas não permite que seus profissionais de imprensa tenham de fato essa liberdade; cita como exemplo, o caso de um colega que amargou uma represália governamental por publicar algo que desagradou a cúpula americana.
Para concretizar seu desejo de ser um jornalista sério e honesto, o octogenário, desde jovem lia muito e entre seus autores preferidos estão Ernest Hemingway e Arthur Miller. Em ambos, encontrou seu viés de escritor profissional, destacando ainda que o jornalismo precisa ser confiável, honesto e não sensacionalista para manter-se como ofício primordial também na sociedade do século XXI.
Esta foi uma rica entrevista, capaz de resgatar o valor da profissão e do profissional.

Regina Maria da Luz Vieira (Regiluz)