Já na Introdução do livro Diálogos, o item IX, que
trata do Amor Filosófico: O Fédro, O Banquete, O Fédon, destaca-se o fato de
haver um só amor , que é exaltado, ou
melhor, consagrado, em O Banquete. Nessa mesma Introdução, a alma é comparada a
“um carro dirigido por um cocheiro (o intelecto) e puxado por dois corcéis
alados, um dócil (a coragem) e o outro rebelde (a concuspicência)”. A colocação
nos remete a carta n 7 do tarot, cuja imagem é um carro (ou uma charrete, no
tarot de Marselha) conduzido por um homem que puxa dois animais (estes,
aparentemente, buscando direções opostas).
De acordo com o texto do tarot, esta carta tem como
significado básico o domínio, representando ainda a segurança, a vitória certa,
a habilidade, as mudanças, bem como a retidão de caráter, o predomínio da
inteligência e do tato. No plano amoroso
representa o bom rumo do relacionamento, a conquista da pessoa desejada. O
texto destaca ainda que o condutor do carro possui a firmeza necessária para
guiar seu próprio destino, subjulgando as controvérsias representadas pelos
animais que impulsionam o veículo. Voltando ao texto O Banquete, podemos
relacionar a carta e seu significado ao seguinte trecho: “o que ama é, de certa
maneira, mais divino que o objeto amado, pois possui em si divindade; é
possuído por um deus.”
O mesmo texto diz ainda que “de todos os deuses, o
Amor é o mais antigo, o mais augusto de todos, o mais capaz de tornar o homem
virtuoso e feliz durante a vida e após a morte.” Destaca também que por amor
tudo se faz e tudo se perdoa, não sendo, portanto, desonra qualquer falha nessa
área; há. uma relação direta entre amor e boas ações nesse texto. A carta 7 do
tarot pode ser considerada um símbolo destas colocações, no conjunto de imagens
que a constitui. O Banquete fala ainda dos dois Eros, um ligado ao amor
carnal/sexual e, o outro vinculado ao
amor divino; diz também que na natureza ora reina um tipo de amor, ora outro.
Mais uma vez estas afirmações nos remetem à carta do Carro e, mais
particularmente, aos animais que conduzem o veículo e cujas caras são
respectivamente serena e sisuda (bem e
mal).
Outro arcano do tarot que pode ser vinculado ao
texto é o 6 - Os Enamorados - cujo significado básico é a indecisão e, ao mesmo
tempo, a escolha consciente. A carta,
com o cupido apontando sua flecha para a mulher mais nova ( à direita de quem
vê a carta de frente), em detrimento da mais velha, que está à esquerda, representa a divisão ou a
indecisão do rapaz que está no centro do tarot. Essa carta simboliza as paixões
ardentes e desestruturantes e, também, representa o afeto verdadeiro, conforme
a combinação com as outras cartas. Podemos comparar o arcano 6 aos dois Eros ou
ainda à virtude e ao vício; O Banquete mostra que “é perfeitamente honroso
entregar-se em nome da virtude.
Este é o Eros de Afrodite celeste. É celeste, e
extraordinariamente benéfico tanto para os indivíduos como para o próprio
Estado, pois impele ao mesmo tempo amante e amado a procurarem incansavelmente
a virtude e a sabedoria. Todos os outros
amores nascem da outra deusa, da
Afrodite popular.” Tal comparação vincula-se ao fato de ser a carta 6 do
taro interpretada também, como a dúvida entre o vício e a virtude; o amor do
Eros de Afrodite celeste e o Eros da Afrodite popular.
O texto O Banquete nos remete para a harmonia como
concordância, sinfonia, resultante de elementos opostos entre os quais
estabelece o acordo e afirma que “a música
é a ciência do amor, relativamente à harmonia e ao ritmo.” Ao falar
sobre o equilíbrio, através do respeito aos dois Eros que se encontram no âmago
das coisas, mais uma vez o Banquete nos remete para o tarot, através da carta
l4 - A temperança - cujo significado básico é a moderação, sendo a representação
feita por um anjo que sintetiza os princípios masculino e feminino com sua
aparência andrógena e, o líquido que
este anjo verte de um vaso para outro, simboliza o equilíbrio entre esses dois
princípios. Representa ainda a
continuidade da vida, o amor sem paixão, motivado por uma sólida amizade; a
conciliação por excelência. Portanto, é necessário conviver com os dois Eros
para encontrar o ponto de equilíbrio; a harmonia entre os opostos.
De acordo ainda com a mitologia grega existem deuses
e deusas e esse simbolismo está presente nas cartas do tarot. Assim, a
Papisa (que simboliza a intuição e o
princípio feminino do amor maternal e individual) está diretamente relacionada à
deusa Deméter, cuja filha foi raptada por amor. As roupas da Papisa nos remetem
para a vestimenta dessa deus, com véu azul e manto vermelho; ela é também o
símbolo da sabedoria divina, no tarot.
Já a Imperatriz, carta 3 do tarot (que simboliza o
intelecto e a razão) vincula-se à Perséfone, filha da deusa Deméter que, junto
com o esposo, governava as profundezas da terra. Há ainda a deusa da Justiça,
Atenas. No tarot, esta é a carta 8, representada por uma mulher com uma espada
, uma balança, mas sem venda nos olhos, lembrando assim, que a Justiça divina
não é cega. Enfim, cada uma das cartas do tarot, em sua concepção simbólica se
baseia no mundo mitológico, onde deuses e deusas têm resquícios humanos, ou
pelo menos, suas virtudes e vícios não se opõem, mas coexistem.
Regina da Luz Vieira (Regiluzvieira)
Bibliografia
GALVES, Heloísa / AZEVEDO, Regina. Tarô Mágico
Alemdalenda, Alemdalenda Bonecos
e Associados, SP, 1992.
PALEIKAT, Jorge (tradutor). Platão, Diálogos,
Ediouro, RJ, 1985.
Nenhum comentário:
Postar um comentário