sexta-feira, 3 de abril de 2015

O Banquete e sua relação com o Tarot

Já na Introdução do livro Diálogos, o item IX, que trata do Amor Filosófico: O Fédro, O Banquete, O Fédon, destaca-se o fato de haver um só amor , que é exaltado,  ou melhor, consagrado, em O Banquete. Nessa mesma Introdução, a alma é comparada a “um carro dirigido por um cocheiro (o intelecto) e puxado por dois corcéis alados, um dócil (a coragem) e o outro rebelde (a concuspicência)”. A colocação nos remete a carta n 7 do tarot, cuja imagem é um carro (ou uma charrete, no tarot de Marselha) conduzido por um homem que puxa dois animais (estes, aparentemente, buscando direções opostas).

De acordo com o texto do tarot, esta carta tem como significado básico o domínio, representando ainda a segurança, a vitória certa, a habilidade, as mudanças, bem como a retidão de caráter, o predomínio da inteligência e do tato.  No plano amoroso representa o bom rumo do relacionamento, a conquista da pessoa desejada. O texto destaca ainda que o condutor do carro possui a firmeza necessária para guiar seu próprio destino, subjulgando as controvérsias representadas pelos animais que impulsionam o veículo. Voltando ao texto O Banquete, podemos relacionar a carta e seu significado ao seguinte trecho: “o que ama é, de certa maneira, mais divino que o objeto amado, pois possui em si divindade; é possuído por um deus.”

O mesmo texto diz ainda que “de todos os deuses, o Amor é o mais antigo, o mais augusto de todos, o mais capaz de tornar o homem virtuoso e feliz durante a vida e após a morte.” Destaca também que por amor tudo se faz e tudo se perdoa, não sendo, portanto, desonra qualquer falha nessa área; há. uma relação direta entre amor e boas ações nesse texto. A carta 7 do tarot pode ser considerada um símbolo destas colocações, no conjunto de imagens que a constitui. O Banquete fala ainda dos dois Eros, um ligado ao amor carnal/sexual  e, o outro vinculado ao amor divino; diz também que na natureza ora reina um tipo de amor, ora outro. Mais uma vez estas afirmações nos remetem à carta do Carro e, mais particularmente, aos animais que conduzem o veículo e cujas caras são respectivamente serena e sisuda  (bem e mal).

Outro arcano do tarot que pode ser vinculado ao texto é o 6 - Os Enamorados - cujo significado básico é a indecisão e, ao mesmo tempo, a escolha consciente.  A carta, com o cupido apontando sua flecha para a mulher mais nova ( à direita de quem vê a carta de frente), em detrimento da mais velha, que está  à esquerda, representa a divisão ou a indecisão do rapaz que está no centro do tarot. Essa carta simboliza as paixões ardentes e desestruturantes e, também, representa o afeto verdadeiro, conforme a combinação com as outras cartas. Podemos comparar o arcano 6 aos dois Eros ou ainda à virtude e ao vício; O Banquete mostra que “é perfeitamente honroso entregar-se em nome da virtude.

Este é o Eros de Afrodite celeste. É celeste, e extraordinariamente benéfico tanto para os indivíduos como para o próprio Estado, pois impele ao mesmo tempo amante e amado a procurarem incansavelmente a virtude e a sabedoria. Todos  os outros amores nascem da outra deusa, da  Afrodite popular.” Tal comparação vincula-se ao fato de ser a carta 6 do taro interpretada também, como a dúvida entre o vício e a virtude; o amor do Eros de Afrodite celeste e o Eros da Afrodite popular.

O texto O Banquete nos remete para a harmonia como concordância, sinfonia, resultante de elementos opostos entre os quais estabelece o acordo e afirma que “a música  é a ciência do amor, relativamente à harmonia e ao ritmo.” Ao falar sobre o equilíbrio, através do respeito aos dois Eros que se encontram no âmago das coisas, mais uma vez o Banquete nos remete para o tarot, através da carta l4 - A temperança - cujo significado básico é a moderação, sendo a representação feita por um anjo que sintetiza os princípios masculino e feminino com sua aparência andrógena e,  o líquido que este anjo verte de um vaso para outro, simboliza o equilíbrio entre esses dois princípios. Representa ainda  a continuidade da vida, o amor sem paixão, motivado por uma sólida amizade; a conciliação por excelência. Portanto, é necessário conviver com os dois Eros para encontrar o ponto de equilíbrio; a harmonia entre os opostos.

 Uma pequena conclusão

 A partir da analogia feita é possível afirmar que as cartas do tarot se baseiam nos mitos de Platão, particularmente, no que se refere ao Amor, tanto carnal como espiritual. No entanto, o simbolismo presente em cada um dos 22 arcanos maiores remete para a mitologia grega no seu conjunto. Assim, a carta do Louco (que pode ser 22 ou 0 ) ,com sua mochila e roupas coloridas, seguindo seu impulso inicial, relaciona-se com o deus Dionízio, que é o esplendor primaveril em sua magnificência. Seguindo em direção ao futuro, sem se importar com os riscos, O Louco, é o símbolo da juventude, do impulso; no amor tanto pode representar um sentimento amadurecido, como uma paixão desenfreada.

De acordo ainda com a mitologia grega existem deuses e deusas e esse simbolismo está presente nas cartas do tarot. Assim, a Papisa  (que simboliza a intuição e o princípio feminino do amor maternal e individual) está diretamente relacionada à deusa Deméter, cuja filha foi raptada por amor. As roupas da Papisa nos remetem para a vestimenta dessa deus, com véu azul e manto vermelho; ela é também o símbolo da sabedoria divina, no tarot.

Já a Imperatriz, carta 3 do tarot (que simboliza o intelecto e a razão) vincula-se à Perséfone, filha da deusa Deméter que, junto com o esposo, governava as profundezas da terra. Há ainda a deusa da Justiça, Atenas. No tarot, esta é a carta 8, representada por uma mulher com uma espada , uma balança, mas sem venda nos olhos, lembrando assim, que a Justiça divina não é cega. Enfim, cada uma das cartas do tarot, em sua concepção simbólica se baseia no mundo mitológico, onde deuses e deusas têm resquícios humanos, ou pelo menos, suas virtudes e vícios não se opõem, mas coexistem.
 
Regina da Luz Vieira (Regiluzvieira)

 
Bibliografia

 
GALVES, Heloísa / AZEVEDO, Regina. Tarô Mágico Alemdalenda, Alemdalenda   Bonecos e Associados, SP, 1992.

PALEIKAT, Jorge (tradutor). Platão, Diálogos, Ediouro, RJ, 1985.
 
Regina Maria da Luz Vieira (Regiluzvieira)

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