Horário
de almoço: queda brusca de temperatura com rajadas de vento gélido, um
cadeirante-pedinte defronte ao portão de entrada da igreja; na mesma calçada, a
meio metro de uma banca que expunha variados tipos de agasalhos e complementos
para o frio. De repente, num gesto inusitado, a vendedora retira um belo poncho
da arara e agasalha o pedinte, o qual abre um sorriso de esplendor em sua
cadeira de rodas. Transeuntes se emocionam com o gesto e batem palmas; um deles
exclama: uma verdadeira ação de caridade.
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Fonte: Google |
O
gesto inusitado aquece corações, trazendo esperança, confiança e a certeza de
que ainda é possível acreditar que o ser humano não é tão individualista como a
sociedade faz parecer. Há aqueles que enxergam os invisíveis do mundo e
estendem a mão na medida em que o braço alcança, a fim de prestar ajuda. A
imagem desta vendedora-ambulante vestindo o poncho no cadeirante-pedinte, em
plena via pública, foi a concretização do mistério litúrgico que acabara de se
realizar no interior do templo.
Um momento emblemático para quem naquele exato momento atravessava o portão da igreja em direção aos restaurantes e comércios da redondeza. Apesar do frio rigoroso do momento muitos sentiram o próprio corpo aquecido e se questionaram: “por que não pensei nisso? Esta é uma ação possível a quem se sente próximo daquele que está em situação de penúria.”
A
ambulante foi a boa samaritana socorrendo aquele que necessitava de auxílio num
instante inglório; a atitude da mulher deixou claro que basta olhar para ver e prestar
assistência a tantos invisíveis, visíveis nesta megalópole paulistana.
Regina da Luz Vieira (RegiLuzVieira)