sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Sentimentos e Emoções

Foto Google

 Tão rápido quanto um sonho de uma noite de verão o dia especial   chegou, passou e acabou. Era um dia comum, mas não para sua   protagonista, pois aniversário acontece uma única vez ao longo do   ano; ainda bem. Já pensou se fosse diferente? Se chegaria aos 50, 60   ou mais de modo muito veloz e, talvez, sem apreender a sabedoria da   Vida.

Deste dia especial ficaram os abraços, as congratulações, reais e virtuais, como há muito não recebia; algumas surpreenderam, outras nem tanto. A surpresa maior viera num “possível esquecimento” que sempre foi o mais improvável. Este trouxe uma pequena nuvem escura que não indicava tempestade, mas acendia o pisca alerta, chamando a atenção para algo latente, mas capaz de se tornar manifesto.

Enquanto o dia fora um grande momento mágico, a noite substituiu o papel em branco cobrindo com sentimentos contraditórios a data especial. Sentimentos não revelados, ora reflexivos, ora introspectivos, ora críticos, porém, cobertos de significados e sentidos. Pareciam instantes de um lânguido torpor que embala, invade a alma e amplia o intenso calor de uma noite de verão. Ao mesmo tempo, tais sentimentos evocam a memória do dia esperado com ansiedade e já terminado apenas num piscar de olhos.

Regina da Luz Vieira (RegiLuzVieira)

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Trinta e cinco centavos

Início de tarde gélida na capital paulista, nada indicava algo tão inusitado, pois o corre-corre para voltar aos escritórios, findo o horário de almoço transforma as calçadas da Avenida Paulista num mar de pessoas que se atropelam e sequer percebem o entorno. Porém, ao sair de um dos restaurantes uma senhora notou um pedinte que lhe estendeu a mão, ainda antes dela descer os quatros degraus que a separavam da calçada. Remexeu na bolsa e só encontrou R$0,35, embora buscasse R$5,00.

 Decidiu falar com o pedinte que aceitou a   irrisória quantia e, ao mesmo tempo, ofereceu o   braço para ajudá-la a descer, atitude que a   surpreendeu, gerando o seguinte pensamento   “quanta educação e gentileza que não se vê   entre os engravatados que aqui almoçam e   transitam diariamente.” Agradeceu a ajuda, desculpando-se por não ter como ajudá-lo.
Foto Google

Seguiu seu caminho, pensando sobre o gesto do homem: cavalheirismo e gentileza surpreendentes por parte de quem teria tudo para estar revoltado diante dela, pois não lhe deu o auxílio esperado. Entretanto, além de mostrar-se conformado a parca oferta, ainda se dispôs a auxiliá-la na descida dos poucos degraus que a separavam da calçada.

Regina da Luz Vieira (RegiLuzVieira)



sexta-feira, 4 de julho de 2025

Gesto inusitado

Horário de almoço: queda brusca de temperatura com rajadas de vento gélido, um cadeirante-pedinte defronte ao portão de entrada da igreja; na mesma calçada, a meio metro de uma banca que expunha variados tipos de agasalhos e complementos para o frio. De repente, num gesto inusitado, a vendedora retira um belo poncho da arara e agasalha o pedinte, o qual abre um sorriso de esplendor em sua cadeira de rodas. Transeuntes se emocionam com o gesto e batem palmas; um deles exclama: uma verdadeira ação de caridade.

Fonte: Google

O gesto inusitado aquece corações, trazendo esperança, confiança e a certeza de que ainda é possível acreditar que o ser humano não é tão individualista como a sociedade faz parecer. Há aqueles que enxergam os invisíveis do mundo e estendem a mão na medida em que o braço alcança, a fim de prestar ajuda. A imagem desta vendedora-ambulante vestindo o poncho no cadeirante-pedinte, em plena via pública, foi a concretização do mistério litúrgico que acabara de se realizar no interior do templo. 

Um momento emblemático para quem naquele exato momento atravessava o portão da igreja em direção aos restaurantes e comércios da redondeza. Apesar do frio rigoroso do momento muitos sentiram o próprio corpo aquecido e se questionaram: “por que não pensei nisso? Esta é uma ação possível a quem se sente próximo daquele que está em situação de penúria.”

A ambulante foi a boa samaritana socorrendo aquele que necessitava de auxílio num instante inglório; a atitude da mulher deixou claro que basta olhar para ver e prestar assistência a tantos invisíveis, visíveis nesta megalópole paulistana.

Regina da Luz Vieira (RegiLuzVieira)