quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Trinta e cinco centavos

Início de tarde gélida na capital paulista, nada indicava algo tão inusitado, pois o corre-corre para voltar aos escritórios, findo o horário de almoço transforma as calçadas da Avenida Paulista num mar de pessoas que se atropelam e sequer percebem o entorno. Porém, ao sair de um dos restaurantes uma senhora notou um pedinte que lhe estendeu a mão, ainda antes dela descer os quatros degraus que a separavam da calçada. Remexeu na bolsa e só encontrou R$0,35, embora buscasse R$5,00.

 Decidiu falar com o pedinte que aceitou a   irrisória quantia e, ao mesmo tempo, ofereceu o   braço para ajudá-la a descer, atitude que a   surpreendeu, gerando o seguinte pensamento   “quanta educação e gentileza que não se vê   entre os engravatados que aqui almoçam e   transitam diariamente.” Agradeceu a ajuda, desculpando-se por não ter como ajudá-lo.
Foto Google

Seguiu seu caminho, pensando sobre o gesto do homem: cavalheirismo e gentileza surpreendentes por parte de quem teria tudo para estar revoltado diante dela, pois não lhe deu o auxílio esperado. Entretanto, além de mostrar-se conformado a parca oferta, ainda se dispôs a auxiliá-la na descida dos poucos degraus que a separavam da calçada.

Regina da Luz Vieira (RegiLuzVieira)



sexta-feira, 4 de julho de 2025

Gesto inusitado

Horário de almoço: queda brusca de temperatura com rajadas de vento gélido, um cadeirante-pedinte defronte ao portão de entrada da igreja; na mesma calçada, a meio metro de uma banca que expunha variados tipos de agasalhos e complementos para o frio. De repente, num gesto inusitado, a vendedora retira um belo poncho da arara e agasalha o pedinte, o qual abre um sorriso de esplendor em sua cadeira de rodas. Transeuntes se emocionam com o gesto e batem palmas; um deles exclama: uma verdadeira ação de caridade.

Fonte: Google

O gesto inusitado aquece corações, trazendo esperança, confiança e a certeza de que ainda é possível acreditar que o ser humano não é tão individualista como a sociedade faz parecer. Há aqueles que enxergam os invisíveis do mundo e estendem a mão na medida em que o braço alcança, a fim de prestar ajuda. A imagem desta vendedora-ambulante vestindo o poncho no cadeirante-pedinte, em plena via pública, foi a concretização do mistério litúrgico que acabara de se realizar no interior do templo. 

Um momento emblemático para quem naquele exato momento atravessava o portão da igreja em direção aos restaurantes e comércios da redondeza. Apesar do frio rigoroso do momento muitos sentiram o próprio corpo aquecido e se questionaram: “por que não pensei nisso? Esta é uma ação possível a quem se sente próximo daquele que está em situação de penúria.”

A ambulante foi a boa samaritana socorrendo aquele que necessitava de auxílio num instante inglório; a atitude da mulher deixou claro que basta olhar para ver e prestar assistência a tantos invisíveis, visíveis nesta megalópole paulistana.

Regina da Luz Vieira (RegiLuzVieira)

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Cumplicidade

 

Pensar, ler, escrever parecem atividades solitárias e são até certo ponto. No entanto, pensamentos, leituras e textos escritos podem ser ações compartilhadas, gerando intensas trocas que enriquecem autores e ouvintes, causando empatia e cumplicidade comunicativa num círculo produtivo que se espalha como as ondas formadas por uma pequena pedra lançada num lago silencioso, calmo e profundo.

Foto Google imagens gratuitas

Há um ditado muito popular: “palavras, o vento leva-as”, ou seja, se perdem. Entretanto, existem aquelas que permanecem porque precedidas de atos concretos. Afinal, ações dizem mais do que palavras. Isso é o que nos demonstra a atitude do caminhoneiro Dee Chhoy na África do Sul, que parou ao ver o desespero de uma mulher com uma criança cadeirante na beira da estrada, na cidade de Adelaide.

O caminhoneiro ouviu a história da mulher que tentava em vão, há duas horas, obter um táxi para levar o filho ao hospital onde tinha consulta agendada. Naquele país há uma lei que favorece os taxistas para este tipo de atividade. Porém, a empresa prestadora de serviços esclareceu que, mudanças recentes estão gerando dificuldades para a execução do trabalho. Tanto o assunto quanto a atitude do caminhoneiro tornaram-se notícias no portal Só Notícia Boa. Conforme o link: https://www.sonoticiaboa.com.br/2025/05/14/caminhoneiro-gentil-ajuda-mae-cadeirante-rejeitada-taxis-chorava-pista.

A ação deste caminhoneiro deixa claro a necessidade de que o ser humano, seja de fato humano no sentido amplo do termo. É importante que ações solidárias saiam do âmbito privado, se estendendo a quem esteja vivenciando situações de infortúnio momentâneo ou constante. Deste modo, a Vida ganha novas cores, fazendo renascer a esperança, apesar de tantas situações adversas e sem sentido neste século XXI que, mesmo globalizado, está sempre noticiando ações intolerantes e posturas de individualidade como regra, dificultando a cumplicidade tão normal para as espécies, incluindo o ser humano.

Regina da Luz Vieira (RegiLuzVieira)