sábado, 23 de novembro de 2024

Cena Inusitada

Andarilhos e moradores de rua integram o cenário de quem reside ou trabalha na Avenida Paulista. Situação esta que provoca reações adversas; muitos ficam indignados, outros quase indiferentes, mas todos são afetados por seres humanos despojados da própria dignidade impingida por questões adversas e na maior parte desconhecida dos transeuntes e habitantes desta megalópole.

No entanto, esta semana os olhares de muitos transeuntes foram atraídos por um morador sentado na calçada, esquina das ruas Augusta e Antonio Carlos. Isto porque ele estava agachado, apoiando nas pernas um livro, ao mesmo tempo em que escrevia no caderno com um lápis. Na verdade, copiava do livro um texto, o qual a longa distância, parecia ser extenso. Após certo período sentou-se e começou a ler, até que decidiu-se remexer nas sacolas a sua volta; por fim guardou com muito zelo tanto o livro quanto o caderno, o lápis. Finda esta tarefa parecia refletir sobre o que havia escrito e lido.

O ponto onde estava era um prédio da Receita Federal desativado, cercado com um tapume de zinco preto, pois estava em obra. Talvez, por isso, sua barraca desaparecera, deixando-o ao relento com suas sacolas e bolsas gastas pelo tempo, porém, repleta de livros.

Foto da autora
No retorno, um tempo depois pelo mesmo caminho já não   o encontrei. Entretanto, a cena inusitada acompanhou-me o dia   todo e muitas perguntas surgiram: Quem é ele? Qual a história a  história de vida? O que o levou a condições tão indignas? Enfim, respostas que só poderão ser obtidas quando encontrá-lo no local onde o vi ou em uma das muitas esquinas da região.

Regina da Luz Vieira (RegiLuzVieira)